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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O Forte dos Reis Magos

O FORTE DOS REIS MAGOS, UM MONUMENTO PROFUNDAMENTE LIGADO A DIVERSOS FATOS IMPORTANTES DA HISTÓRIA BRASILEIRA:

Forte dos Reis Magos, em Natal/RN

Edificada em Natal, na barra do Rio Potengi em fins do século XVI e início do XVII, a Fortaleza da Barra do Rio Grande – conhecida popularmente como Forte dos Reis Magos – foi palco de acontecimentos históricos que transcenderam largamente sua função militar originária.

Sua gênese remonta ao ano de 1598, quando Portugal fazia parte do reino da Espanha – pelo acordo da União Ibérica (1580-1640) – e encontrava-se sob o reinado de Filipe II. A colônia Brasil, já descoberta há quase um século, via nascerem seus primeiros aparelhos produtivos – os engenhos –, sendo explorada por escambos ou ciclos extrativistas, muito mais ocasionais do que planejados. A precariedade das instalações e os recorrentes conflitos com tribos indígenas e “invasores” marcavam o período. O contexto das grandes navegações, no entanto, exigia cautela: novas nações – como França, Holanda e Inglaterra – passavam a impor-se na partilha dos “novos mundos” conquistados.

A melhor defesa, assim, era, sem dúvida, a ocupação efetiva. O Tratado de Tordesilhas, em si, não garantia proteção alguma; formas defensivas concretas deveriam ser buscadas para que a colônia incorporasse territórios adjacentes e os defendesse, e para que os fidalgos portugueses tivessem respaldo em suas buscas por oportunidades brasileiras, que agora expandiam-se para além da Paraíba, rumo ao norte, onde a presença de índios e franceses constituíam obstáculo.

É nesse contexto que Filipe II da Espanha ordena ao capitão-mor de Pernambuco, Manoel Mascarenhas Homem, que organize uma expedição para anexar a região que hoje compõe o Rio Grande do Norte. Para garantir a integridade do território – ameaçado por índios e franceses –, foram-lhe oferecidos os recursos que necessitasse, sob responsabilidade do Governador Dom Francisco de Sousa.

A organização da empreitada teve início na Bahia, ponto de encontro de Mascarenhas Homem com seus escolhidos: chefes índios e seus guerreiros, missionários jesuítas e franciscanos e muitos escravos. Dividiu-se a expedição em duas partes: uma por mar, comandada por Mascarenhas Homem, e outra terrestre, tendo Feliciano Coelho de Carvalho, capitão-mor da Paraíba, à testa. Esta última, fustigada por um terrível surto de varíola, foi obrigada a retornar à Paraíba; a primeira, Mascarenhas à frente, desembarcou na embocadura do Rio Grande em 25/12/1597.

Dentre os primeiros trabalhos de ocupação, em poucos dias sofreram ataque de franceses e indígenas (segundo consta relato do Padre Pero Rodrigues). O ataque, contudo, não impediu a continuidade do projeto, iniciado em 06/01/1598 (dia de Reis) e o esforço não foi pequeno: inúmeras pessoas trabalharam incessantemente na edificação, em condições precárias e duras, tendo por paga às vezes apenas alimentação, como no caso de alguns índios.

No contexto das invasões holandesas no século XVII, a fortaleza chegou a ser ocupada de 12/12/1633 a fevereiro de 1654, com o nome Castelo Ceulen (Kasteel Keulen).O capitão Joris Garstman foi o primeiro holandês a comandá-la e o Conde Maurício de Nassau (1604-1679) mandou fazer reparos na construção (1638).
A partir da segunda metade do Século XVIII a Fortaleza dos Reis Magos limitou-se a servir de cadeia, sendo as outras funções distribuídas a outros órgãos.

Dali em diante, entrou em estado de alerta em poucas ocasiões: com a transferência da Corte, sob o Bloqueio Continental imposto pela França, poderia ser necessário defender-se de invasões; durante a Revolução de 1817 – quando a luta republicana triunfa e separa a capitania da Paraíba –, a Fortaleza abrigou importantes presos políticos; na Guerra do Paraguai, saudou com 21 tiros o retorno dos “Voluntários da Pátria”.

Mas ao longo das décadas ia-se desfigurando, contudo, seu caráter inicial; em 1907, foi desclassificada definitivamente como estabelecimento militar, entretanto durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) o forte esteve guarnecido por uma Bateria Independente de Artilharia de Costa.

Em 1950 a construção foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Convertida em museu, Reis Magos cumpre seu destino de monumento histórico, não obstante graves erros cometidos, como a extinção da capela que forneceu apoio – e a caracterizou – durante décadas. Entre as últimas reformas, construiu-se um passadouro de acesso (com participação do arquiteto Lúcio Costa, colaborador da construção de Brasília), para que as próximas gerações sigam conhecendo e admirando esta formidável testemunha da nossa história.

Todavia a fortaleza atualmente encontra-se em estado de abandono, nele observando-se infiltrações generalizadas, partes do revestimento de reboco se soltando, ausência de repintura periódica, necessidade de revisão e conservação das instalações elétricas, de mobiliário e mesmo do acervo exposto.

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